Tudo era diferente.
O modo como mexia nos cabelos sedosos, como se curvava sobre a mesa para escrever em concentração, como se recostava na cadeira com leve desleixo, como observava quando escutava, como gesticulava quando falava, como flexionava a voz, como ria das brincadeiras alheias e como ria das próprias gracinhas.
Tudo era diferente.
E ainda assim, o cheiro, o perfume.
Bebia da sua essência pelo olfato, o mais intenso de todos os sentidos.
E encontrava ali mais uma pegada do passado. Uma poça enlameada com o formato da pisada de quem já se foi.
Se foi sob a torrente de todas as decepções.
A essência que sentia nesse exato momento vinha quase que com um frio de chuva daquele verão ensolarado.
A essência poderia me tragar de volta ao passado, procurando por um sol inexistente entre as nuvens pesadas e preguiçosas em partir.
A essência, somente a essência, teria esse poder.
Mas, dessa vez, apenas pulei a poça, me livrei da lama que respingou e segui em frente.
Não seria possível que o mesmo cheiro me levasse pelo mesmo caminho, me deixasse com uma mesma pegada à frente, com as mesmas roupas encharcadas.
Não seria possível.
O caminho era outro.
O passo era outro.
Eu era outra.
Tudo era diferente.