terça-feira, 17 de setembro de 2013

Libertação

chorar
sem motivos
       pretensões

chorar
incessantemente

chorar
nem sempre pela dor
        ou       por 1 amor
        ou       por um fracasso
pela vida

chorar
pela necessidade
                    paz
de espírito

chorar
pelo alívio 
desconhecido
misterioso
imprescindível

chorar
cessar as dores
           as noites
dores
           os dias
dores
            as horas
dores
            a vida

chorar
não sempre
    mas 
não nunca

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Incoerência social



Será que eu sou errada 
por gostar do estranho
                  do incomum 
                  do diferente 
do único?

Será que minha aversão
ao padrão é sem sentido
                           infundada 
                            irracional 
incoerente?

Ou será que a sociedade
 simplesmente se esqueceu que, 
                                       apesar de vivermos em conjunto, 
somos indivíduos, 
                                       completamente únicos, 
em nossa essência?

Morte - 1

morte
crime da vida
somos inocentes réus

julgados
           condenados
           discriminados
           
morto
adjetivo injusto

nascer
crime imputido
todos nós, conscientes seres,
criminosos descarados
nascidos, bandidos

morte
combustível mais potente
da vida mais sagaz
do amor mais arisco
                      impossível
redentor da minha Copacabana

escolhas
não escolhemos nascer
não escolhemos morrer
escolhemos apenas o como

um destino certo
caminhos eternos
                infinitos

que findam no último olhar
                 ou              grito
                 ou              
apenas um
unico 
                                  pensar

Suicidas

João. Maria e José.

Lá estavam os três.

O fumante, intrépido no ato de repetidamente acender seu cigarro de palha; a fumante-suicida, desejosamente fitando a fumaça alheia; e o não-fumante, sufocando no ar que inspirava na esperança de que fosse tabaco.

João, sem perceber o drama interno do qual seus outros comparsas 
padeciam; Maria, pensando seriamente em fumar a fumaça-suicida do seu cigarrocareta; José, tentando distrair sua mente em abstinência recente.

O cigarro de João apagou e ele, por sua vez, não fez questão de acendê-lo. A vontade de Maria aumentou e ela, cedendo, confessou aos outros sua vontade de fumar o Suicida. O desejo de José apertou e ele, injuriado, fez ouvir sua completa aversão ao ato de fumar um Suicida.

João, bom de coração como era, se ofereceu para acompanhar Maria no tal ato, como dissera José, libidinoso. Maria, aliviada como estava, cedeu a João um de seus Suicidas. José, inconformado, replicou a João que não fumasse, insistiu ferozmente, chegando a se levantar para expressar seu ponto.

O dar de ombros de João foi simultâneo ao acender do seu Suicida. O olhar de Maria acompanhou a reação de José. O estremecer de José externou desaprovação. Parado, fitou os dois fumantes-suicidas.

João o encarou tranquilamente através da fumaça que soltava. Maria replicou que aquele Suicida, em particular, era um Suicida-Livre, ou seja, mais aceitável. José, ainda inconformado, voltou a se sentar.

João, tranquilo, continuava fumando. Maria, atenta, ofereceu à José um Suicida. José, aliviado, aceitou.

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Eu me abro no fecho

O vento cortava. Chilreava.
Parecia uivar o canto do frio. 
Bagunçava meus cabelos já despenteados e entrava pelas mangas da minha jaqueta surrada.
Olhei o relógio. Ela estava cinco minutos atrasada, como sempre.
O atraso que antes me arrancava sorrisos, hoje gerou um esgar.
Dei um trago no cigarro e apertei mais o copo de café em minhas mãos, na esperança de esquentá-las.
Obviamente em vão. Seria mais fácil elas o esfriarem.
O cigarro apagou, é claro. Onde estava o isqueiro?!
Enquanto o procurava, sua mão tocou meu ombro. Lá estava ela.
Bonita, como sempre. Mas não tão bela como antes.

Decepção muda muita coisa.

Um sorriso torto cresceu em meus lábios, contrariados.
Peguei em sua mão, sempre mais quente que a minha, esperando o alívio que aquele toque gerava surgisse em meu corpo. Nada. Os ombros continuaram tesos como estavam há um longo tempo.

Decepção muda muita coisa.

Iríamos ver um filme no cinema do bairro. Nada demais, apenas uma distração durante a semana.
Fomos andando, sua mão na minha, suas palavras ao vento. Antes o que escutava com tanta atenção, agora mal chegava aos meus ouvidos.

Decepção muda muita coisa.

Parecia utópico poder andar de mãos dadas com ela, pelas ruas da minha cidade, com a mente tranquila.
Um sonho, antes muito almejado, se tornando realidade.
Mas, ou a realidade possuía um gosto mais suave que os sonhos, ou os sonhos haviam mudado.

Decepção muda muita coisa.

Quando chegamos ao cinema, fomos logo para o fundo, mais afastado. Queríamos namorar à luz da projeção. Pensei que meus lábios rasgariam ante a tensão do sorriso que eu esperava surgir naquela situação. Nada.

Decepção muda muita coisa.

Apagaram-se as luzes. O cinema estava relativamente vazio, para nossa sorte. Poderíamos ficar à vontade.
Nunca havíamos conseguido ver mais que quinze minutos de filme antes. Quando nos juntávamos a ânsia pelo toque, pelo beijo, era forte demais. Colocávamos o filme e, logo depois, já o havíamos esquecido entre nossos beijos, nossas conversas e nossos risos.
Hoje não. O filme transcorreu calmamente. Trocamos algumas carícias, apenas. 

Decepção muda muita coisa.

Quando saímos, o frio parecia ainda mais cortante. Nos abraçamos e seguimos pela calçada, corpos ainda entrelaçados um no outro. Mas, não pela vontade, sim pela necessidade.
Ela iria dormir na minha cama. Outra utopia. Dormir nos braços do nosso amor. 
Chegamos em casa. Comemos, trocando palavras aleatórias. Fomos para cama.
A noite com a qual eu sonhava aconteceu, mas, mais uma vez, a realidade pareceu atenuar seu gosto.
Ela não dormiu nos meus braços e eu não me importei. Quando fechei os olhos, minha mente estava vazia. Não me assustaria se meu coração também estivesse.

Decepção muda muita coisa.

Acordamos. O sono a deixava sexy, mas não tive vontade de prová-la logo de manhã. 
"Bom dia, flor-do-dia."
Tomamos banho. Seu corpo era lindo ensaboado, mas, ainda assim, não tive vontade de prová-la.

Decepção muda muita coisa.

Enquanto observava ela se vestir, uma resolução começava a se formar em minha mente.
E, pela sua expressão, a mesma resolução parecia se formar na dela.
Não estávamos tristes.
Era um alívio finalmente aceitar o óbvio. Obrigada.
O plano era passarmos o dia à-toa, apenas entre nós, nossos beijos, nossos risos, nosso amor.
Mas eu via a pergunta, que pairava em minha mente, no rosto dela: pra que?

Decepção muda muita coisa.

Ela me sorriu um entendimento. Eu sorri de volta. As lágrimas não surgiram como era de se esperar.
O sorriso era sincero, a calma também.
Levei-a até a porta. 
Beijei suas mãos, seus braços, seu pescoço, suas bochechas, sua testa, seu nariz. Beijei seus lábios.
Os lábios mais perfeitos que já tocaram os meus, os mais cálidos, os mais macios. Um único beijo.
Sorrimos.
"Até amanhã." Uma mentira dita quase em uníssono.
O amanhã nunca veio.
Não era preciso. Nosso amor havia ficado no ontem, e o hoje apenas comprovava o óbvio: os amores também podem falir.
E o nosso faliu. 

Decepção muda muita coisa.



quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Não venha

Às vezes, penso que é melhor você não vir.
É. Não venha.
Não venha.
Não deturpe meu dia.
Não perturbe minha mente.
Não tente minha sanidade.
Não venha. Permaneça no limbo.
Nem cá, nem lá.
No intermédio. Na indiferença.

Seja o intervalo.
Seja a ausência.
Seja o desconhecido ao virar de uma esquina.
Seja apenas a vontade.
Seja você. Mas o seja longe de mim.

Não venha.

Não venha me perseguir com seus olhos avelãs, seu cabelo negro e sua pele alva.
Guarde seus dotes, sempre tão bem cuidados, para outra.
Esconda suas mãos, seu pescoço, seus lábios.
Vista a burca.
A burca da minha sanidade.

Não venha.

Não me procure.
Deixe-me seguir em frente com os espólios que restaram.

Seja justa.
Não venha.

Seja bondosa.
Não venha.

Seja pura.
Não venha.

Seja indiferente.
Não venha.

Seja bela.
Mas onde eu não possa vê-la.
Passe o melhor perfume. O nosso perfume. Banhe-se nele.
Mas permaneça a uma distância que não me seja possível cheirá-lo.
Por fim, quando não vier..
Me ame.
Me abrace.
Me cheire.
Me beije.
Me toque.
Mas no limbo. No intervalo. No abstrato.

Eu lhe peço, não venha.
Um mundo de amores.
                                  Inconsequentes.
                                        Incoerentes.
                                         Invencíveis.
                                         Intragáveis.
                                          Intangíveis.
Impossíveis.

Café

Os poetas falam tanto sobre café, cigarros e decepções amorosas.
E eu entendo apenas sobre os dois últimos.
Cigarros que despedaçaram meus dentes e decepções que amarelaram meu coração.
Não gosto de café.
Não gosto de café com pão.
Não gosto de café com bolo.
Não gosto de café com cigarros.
Não gosto de café.
Mas como falar de amores e cigarros sem falar de café?!
Como ser um personagem da vida sem afogar as mágoas num café amargo enquanto se fuma um cigarro?!

Imagine:
"A paisagem era austera. Seu coração era austero. Sua dor, latente. Não sabia se o café que era amargo demais ou se seu paladar havia engrossado assim como sua voz devido aos inúmeros soluços da noite anterior. Observava a fumaça se desfazer com o vento, a paisagem ao fundo. O cigarro que mata. O café que amarga. O coração que anseia. Todos os três tão comuns e rotineiros, pareciam estranhos coadjuvantes naquele dia ensolarado. 
Que ironia! Sol, logo hoje.
Será que os deuses não se padeciam das suas lágrimas?! Misericórdia, ele queria gritar.
E apesar do sol intenso e intermitente em sua nuca, ele continuava a beber o café amargo e a puxar a fumaça densa e quente. 
Era desconfortável. 
Mas era o necessário.
Corações despedaçados se curam assim. Entre cigarros e cafés."

Sou uma imitação de poeta.
Uma tentativa.
Um engasgo.
Uma vontade irrealizável.
Um grito engolido.
Um orgasmo perdido.
Um café não tomado.
Um poeta que não bebe café é o mesmo que um maço sem cigarros.
Dispensável.


Reluz como ouro

É engraçado como as pessoas reluzem de acordo com a luz que incide sobre elas.
Por luz entenda a percepção do outro. O olhar.
Sob o olhar certo qualquer metal reluz como ouro.
E hoje eu vi ouro em seus cabelos lânguidos.
Dourados do meu olhar.
Reflexos da minha observação.
Seus olhos me pareceram mais vivos e sua voz mais cálida.
Seu toque ausente no meu anseio por ele.
O cheiro do seu cigarro de filtro parecia eau de perfume.
Você não havia se transformado da noite pro dia.
Era eu quem tinha colocado os óculos certos para os meus olhos desesperançados.
E, dessa vez, eu não apenas a vi, eu a enxerguei, como de fato era.
Complexa em seus problemas. Carente em suas necessidades.
Desesperada nos seus amores. Inconsequente em seu atos.
Crua em sua percepção.
Sozinha em seus relacionamentos.
Ao mesmo tempo que me senti tentada, me senti alertada.
"Não pise, não toque, não olhe." Apenas sinta.
Então, eu senti.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Gigante? Porra nenhuma!

Tudo o que eu queria era que o povo do manifesto tivesse um pouco mais de cultura e educação. 
Pra pelo menos existir possibilidade. 
Mas nem isso, né, moçada?!
Não estou falando que eles são uns ignorantes analfabetos. De forma alguma, não sou melhor que ninguém. É só que se eles soubessem da metade não estariam nessa felicidade toda por estarem indo às ruas apenas.
Não me entendam mal, estou muito feliz e animada do pessoal estar se colocando à disposição de ir, andar, cantar, gritar e etc. 

Mas é que tem gente que acha que é festa.
Que manifestação é parada sabe-se-lá-do-quê. Que é micareta. Carnaval. Arrastão. Tatame de luta. Até açougue, se bobear. Menos manifestação.
Vaiam policiais, picham muros. Erguem cartazes sarcásticos e com frases de efeito que impressionam e não mudam nada. Eles esquecem que reforma não é feita da noite pro dia, parando o trânsito das cidades.

Reforma requer esforço, dedicação, disciplina, perseverança. É preciso acompanhar a todo momento o desenrolar do governo.

É ir à urna com a tal consciência de quem vai às ruas. E saber que não é só ir lá e votar e cumprir sua obrigação.
É lembrar em quem votou e acompanhar o que o dito cujo anda fazendo.

Ser humano é egoísta. Precisou tirar 0,20 a mais do bolso pra ele ir à rua. Porque os trilhões da Copa saíram dos cofres públicos.
Dinheiro que você já pagou, e ainda paga, em qualquer coisa que compra. 
Ou seja, o dinheiro já tava lá mesmo. Indiferente.
Aí, você fica insatisfeito com os 0,20 a mais e o que faz? Vai à rua. 
Mas ir à rua por causa de 0,20 é muito mesquinho, né?!

Aí sim, o povo vai pra Internet pesquisar o que mais de podre tem no governo:
Nascituro, PEC 37, ato medico, royalties do petróleo, cura gay, e por aí vai.

Ninguém pensa no bem maior não, sô.
Pergunta pra um político porque ele é politico. Duvido que é pra ajudar aos outros.
Ninguém pensa no todo quando os problemas pessoais batem ali ó, na porta de casa.

Então, manifestante, vá à rua, sim. Faça parte da história do seu país. Mas não vá gritar abobrinha, nem se revoltar contra o que nem sabe.
Se não souber e nem tiver interesse em saber, vá apenas pra encher as ruas.
Porque quando você, classe media marrentinha, vaia policial, picha muro, fala merda, só denigre o que, de fato, é correto e fundamentado.

Se o pessoal começar a pensar no todo, e a trabalhar pelo todo, não haverá problemas pessoais, apenas sociais.
Porque o que não for problema pro todo, não vai ser problema at all. Vai ser só um empecilho rotineiro. Mais uma pedrinha no meio do caminho.

Eu vou à rua, sim. Mas me mantenho calada e atenta ao que acontece.
Porque gritar opiniões pela metade me envergonha.

Para de assistir suas séries, ver sua novela, jogar seu vídeo game, ver seu filme. Vá ler um livro, vá à um Teatro, à uma galeria.
Vá se tornar uma pessoa melhor e menos mesquinha. 
Se você quer mudança comece por você.
Se quer mais investimento na cultura, procure cultura. Se quer mais investimento na educação, dedique-se aos estudos.
Se quer justiça, cumpra com seus deveres e lute por seus direitos. Se quer futuro, invista no seu presente aprendendo com o passado.

Se quer reforma política, eduque-se, instrua-se, construa valores morais sólidos e candidate-se ao Senado.

Faça a diferença que tanto deseja.

Senão, cale-se, engula seu orgulho e admita que o país não está do jeito que você acha certo porque você não tem coragem de colocar a cara a tapa por ele.

Conto de Verão

Uma vez, um jovem saiu de casa com o intuito de comprar um enfeite para colocar na mesa de centro da sua sala de estar.
Ele queria um enfeite modesto, apenas algum adorno para preencher aquele tampo vazio.
Mas um enfeite que fizesse a diferença, que desse um tom para a sala de estar.
E lá foi ele na empreitada.
Por sorte, a primeira vitrine que avista lhe chama a atenção.
Lá estava um adorno que não esperava encontrar, muito menos possuir. Não condizia com a decoração da sua sala de estar, em absolutamente nada.
Mas, ainda assim, havia algo ali. A forma como a luz da vitrine refletia em sua superfície. A cor. O próprio objeto em si. Havia um quê de elegância.
E apesar de não ser fã de coisas assim e de sua sala não ostentar nada de elegância, ele quis aquele adorno.
Entrou na loja, conversou com o vendedor e, muito mais fácil do que imaginava, lá ia rua afora com o tal adorno embaixo do braço. Sorriso estampado no rosto e o andar animado.
Chegou em casa e colocou a mais nova aquisição em cima da mesa.
O contraste foi grande. Aquela sala simples com um único adorno sofisticado.
Se sentiu quase um contemporâneo. Brincando com fogo. E o fogo era belíssimo.
Sempre que passava pela sala não podia deixar de sorrir. Sentia uma alegria imensa e verdadeira simplesmente por ter aquilo ali. Brincava consigo mesmo e ria da própria audácia. Seu riso ecoava pelas paredes da sala, como se esta, na verdade, fosse uma galeria.
Bem, o tempo passou.
Não se sabe bem ao certo o que aconteceu.
Se o objeto havia perdido sua beleza com o passar do tempo, sua superfície descascado e ofuscado, não mais refletindo o brilho das luzes.
Ou se, na verdade, a vitrine desse o tom ao objeto, a elegância, o mistério.
Ou se, de tanto passar pela sala, observar o objeto de vários ângulos, o encantamento havia acabado. 
Os dias de contemporâneo, meu caro, findaram.
Ele acabou por deixar o tampo vazio e esperar deixar o destino lhe levar por outras vitrines.
Não se desfez do objeto, porém. Mas o guardou no criado-mudo ao lado da cama.
Todos os dias ele dava uma olhada, fechava os olhos e tentava imaginá-lo naquela vitrine onde o havia encontrado e onde o deveria ter deixado.
Ser contemporâneo e brincar com fogo é bom. Na verdade, é absurdamente estimulante.
Só que o fogo queima.

Cartão Postal de BH

Quando falam sobre BH o que lhe vem à mente?
Praça da Liberdade? Palacio das Artes? Parque Municipal?
Praça da Estação? Praça do Papa?
Ousaria até dizer: BH, a cidade das praças? Por que nao, certo?!

Pois bem, estava eu, em plena quarta-feira, sentada com os amigos, na varanda do Edifício Maleta, tomando uma cerveja, quando, de repente, percebo que eu estava sentada no meio de um cartão postal de BH.
Um cartão postal que É a imagem que melhor define a cidade maravilhosa.

Imagine-se sentado no seguinte cenário:
A sua esquerda estão as portas de metal - aquelas de bares e lojas do centro
de qualquer cidade -, entremeadas por pilastras grossas, redondas, ornamentada
com pequeno azulejos cor de cimento.
Bem característico de cidade grande. Concreto, metal - cidade que cresceu
rápido, sem luxo.
Logo a frente, a velha e sempre presente mesa de bar. Aquelas de plástico mesmo,
sabe?
Em cima dela nada mais que: um pacote de amendoim salgado, várias bitucas de 
cigarro de palha, copos de cerveja, isqueiros.
Com seus cigarros de palha e os copos de cerveja, a mesa grita: MINAS, uai!

Meu companheiro da noite é ninguem mais ninguem menos que a representação
da cena jovem e pop de BH: um gay maravilhosamente despojado, inteligente, comunicativo.

A esquerda temos a sacada de concreto e aço inox do prédio. 
Naquela superfície espelhada e contemporânea vê-se claramente o séc.XXI em
um prédio tão representativo da história de BH. A modernidade chega para todos.

Logo abaixo, temos a Augusto de Lima.
Agradavelmente movimentada pelo horário já tardio.
ônibus que vêm e que param, desce gente, sobe gente.
Pessoas que atravessam as ruas, naquele ritmo constante, necessário.
Retardatário em BH nada mais é que atropelado.

Entre as duas mãos da rua, há árvores plantadas na calçada. 
Dá exatamente aquele ar de praça, primordial em BH.
Você se sente bem. Ver aquelas arvores altas entre os metais dos carros que reluzem
entre os semáforos e o concreto dos prédios que crescem impiedosos sobre aquele
movimento de civilização.

Do outro lado da rua, os edifícios são residenciais. Nada de vidro espelhado,
30 andares, etc. Não. Um deles é verde, abacate, ousaria dizer. Com varandas e 
janelas que mostram claramente que, ali, há vida.

Mas o que mais torna esse cenário o cartão postal perfeito de BH é o Casarão.
No quarteirão da frente, do outro lado da rua, no meio de todo aquele barulho e
movimento, surge uma construção histórica, de apenas um andar e da largura do
quarteirão. Arquitetura belíssima.
E o mais engraçado é a luz que ilumina tal construção.
Não é daquelas fluorescentes que dão um ar inóspito para todo prédio histórico.
Não, pelo contrário.
É aquela luz amarelada, que a mídia tanto insiste em condenar pelo alto consumo
de energia elétrica.
Aquela luz que você lembra da sua infância. Aconchegante.
Parece haver vida lá dentro. Não é apenas mais um "prédio histórico" cheio
de frescuras. Não pise, não toque, não olhe. 
Mineiro é tudo, menos fresco.
Aquela luz fez a cena. Um casarão histórico que parece dizer: vamos entre, há
vida aqui dentro. Mas, nao só isso, um pao de queijo e um cafézinho também.

BH é a cidade maravilhosa. Na qual, você tem, ao mesmo tempo, modernidade,
civilização, história e vida.
O Rio que me desculpe com o seu Cristo e suas praias.
Mas eu gosto mesmo é de BH com suas praças e cigarros de palha.