domingo, 15 de dezembro de 2013

Perco-me em labirintos a procura de um assunto. Qualquer assunto.
Falaria de césares e párias, de montanhas e cachoeiras, de arte e de futilidades, discutira polêmicas sem nem ter opinião formada, leria artigos do que não concordo e escutaria bandas das quais não gosto.
Um especialista me tornaria sobre o que quer que quisesse conversar.
Só para sentir que, durante nossa pequena troca de palavras, sua atenção está em mim.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Certa vez me apaixonei pelo impossível.

Sabe aquele impossível realmente impossível? Que mesmo depois de noites em claro, lágrimas vertidas, cartas reviradas, conselhos misturados e maços e maços de cigarros fumados não tinha se tornado menos impossível? Um impossível que não tem nem por onde começar a torná-lo possível? Um impossível por natureza, como um pássaro que nasce pássaro e não lhe é possível virar morcego?

Então, exatamente esse tipo de impossível que lhe revira a alma e a cama junto, que lhe ocupa a mente e a vida, que lhe cansa a vista e os dias, que lhe mata aos poucos e incessantemente.

Creio eu, tenra em minhas experiências, que o impossível é, por si só, apaixonante. Ora, sem amores impossíveis onde estaríamos agora? Em uma sociedade sem poetas, sem artistas, sem tragédias. Na qual não se sente a angústia que é não poder tocar a pele que tanto anseia, não sente a dor, quase tangível, de não poder beijar os lábios que tanto deseja.

Vivemos em um mundo imediatista. Tudo é para agora. Tudo. Paciência parece ser virtude dos tempos em que minha avó precisava andar 5 horas de carroça para ver seu pretendente, 5 horas que passaria suspirando e esperando ansiosamente.

Não existe mais aquele jogo da sedução, do conquistar, do se encantar. Não se brinca mais com os olhares, nem com os bilhetes. O galante, não mais galanteador, vai direto ao ponto. Aborda seu amor de modo direto, inquisitivo e imediato. É quase um "agora ou nunca" do amor, "ou vai ou racha".

Nesse mundo completamente deturpado de sentimentalismo, o impossível é exatamente aquilo que grita à alma. Que faz a diferença. Que dá um gostinho de quero mais aos momentos.

Você sorri involuntariamente quando troca um olhar com o impossível. Um novo sol parece nascer no seu dia quando tromba com o impossível no corredor. Você quase ri em júbilo quando escuta o impossível gargalhando deliciosamente. Você pega o ônibus errado só para sentar ao lado do impossível na volta pra casa.

Como não se apaixonar pelo impossível? Não sei. Creio eu que seja impossível.

Me é impossível sentir seus lábios espertos, me é impossível passar os dedos pelo seu cabelo misterioso, me é impossível sorver do perfume da sua própria pele, me é impossível saber o gosto do seu suor, me é impossível rir da sua nua timidez sob meu olhar perscrutador.

Você me é impossível. E por isso, talvez apenas por isso, me seja tão apaixonante.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Felicidade requer coragem.

Infeliz é aquele que mergulha nos próprios medos.
Que abraça a inércia como uma velha amiga.
Que se acomoda nos lençóis do fracasso para uma soneca eterna.
Que deixa o tempo apagar os sonhos mais proibidos.
E que diz sentir o que não é capaz de demonstrar.
Não se sinta melhor nem pior que ninguém.
Você é único. O que você tem a oferecer é único.
Seus olhos só você têm, seu olhar, seus lábios, seus gestos e trejeitos, sua história de vida, sua forma de raciocínio, suas manias, seus sonhos e ambições.
Você é um conjunto único, completo e capaz. Perfeito em sua complexidade. Infindável em seu potencial.
Jamais existirá outro ser igual a você por mais parecido que possa ser.
Então, valorize-se. Valorize ao outro. Valorize as diferenças.
Não faça comparações. Não permita ser comparado.
É impossível comparar uma unicidade com a outra.
Não seja medíocre ao querer se encaixar em padrões tão superficiais e sem significados. Padrões temporais e inconstantes. Padrões que ferem, discriminam, insultam, repelem, afastam.
Seja único. Nem melhor, nem pior.
Apenas único.
Você não se cansa?
Você não se cansa das futilidades? Das mesquinharias? Do consumismo exacerbado?
Do ciclo vicioso em que vivemos de: não termos o bastante e por isso não sermos o bastante?!
Você não se cansa dos mesmo assuntos? Do mesmo enredo que sua vida segue, seja no ponto de ônibus, na fila do supermercado, na academia, na livraria?
Você não se cansa de viver com uma viseira moral e criativa? De ser incompleto culturalmente?
Você não se cansa de sobreviver através dessa sociedade ao invés de viver seus anseios como bem entender?
Você não se cansa de ser medíocre? De ser covarde?
Você não se cansa de aceitar?
Você não se cansa de ser apenas um expectador em sua própria vida? De não ter forças nem para trocar de canal?
Você não se cansa de não viver? De não sentir? De não ser?
Você não se cansa?

domingo, 8 de dezembro de 2013

A brisa soprava suave.
A Kombi continuava estagnada.
E eu, ali, continuava diferente. 
Não simplesmente diferente no sentido de ser diferente.
Mas no sentido de continuar diferente, mudando à todo momento.
Constância na mudança.
O mudar sendo constante.
O não-permanecer constante.
A constância na mudança.


Sempre serei eu mesma, mas nunca serei a mesma.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A angústia parece ser um estado de espírito inerente ao ser humano.
Toda vida parece ser angustiada.
O homem possui um sofrimento que advém da sua própria existência e consciência de si mesmo.
Consciência de que, no final das contas, não é tão diferente assim do cachorro que vaga pelas ruas sem rumo.
Consciência de suas limitações terrenas quando vê um pássaro voando sobre sua cabeça.
Consciência de que por mais que faça, por mais que grite, por mais que crie, nada mais é que um indigente nas páginas da História.
E que, até mesmo a História, sua própria criação, nada mais é que finita perante ao Universo.
A insignificância do homem perante ao Todo é tão aterradora que o homem vaga pelo mundo angustiado.
Em sua busca desenfreada pela significância, o homem cria deuses que justifiquem o que lhe foge à compreensão, constrói sistemas que lhe deem um pseudo-objetivo de ser, inventam novas tecnologias no intuito de se sentir mais dono de sua pequena verdade.
O homem entra em consonância com o Universo somente através da Arte.
Quando toca, quando pinta, quando esculpe, quando canta, o homem se torna um conduíte de toda a grandeza do que é exterior à ele.
Mas, ainda assim, até mesmo a Arte, que é a forma do Universo se mostrar perante à nós, à nossa insignificância, se torna obsoleta ao ser tão finita quanto nossa própria existência.
Chegará o tempo no qual o homem deixará de existir. E o Universo nada mudará com isso.
O homem, em sua vã ignorância perante à grandeza do Universo, é tão efêmero quanto a vida que julga comandar.
O homem é o único ser conhecido por ele mesmo que vive com consciência de viver, que atribui significado à sua própria insignificância.
E essa consciência o angustia, pois ele é sem ser.