quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Certa vez me apaixonei pelo impossível.

Sabe aquele impossível realmente impossível? Que mesmo depois de noites em claro, lágrimas vertidas, cartas reviradas, conselhos misturados e maços e maços de cigarros fumados não tinha se tornado menos impossível? Um impossível que não tem nem por onde começar a torná-lo possível? Um impossível por natureza, como um pássaro que nasce pássaro e não lhe é possível virar morcego?

Então, exatamente esse tipo de impossível que lhe revira a alma e a cama junto, que lhe ocupa a mente e a vida, que lhe cansa a vista e os dias, que lhe mata aos poucos e incessantemente.

Creio eu, tenra em minhas experiências, que o impossível é, por si só, apaixonante. Ora, sem amores impossíveis onde estaríamos agora? Em uma sociedade sem poetas, sem artistas, sem tragédias. Na qual não se sente a angústia que é não poder tocar a pele que tanto anseia, não sente a dor, quase tangível, de não poder beijar os lábios que tanto deseja.

Vivemos em um mundo imediatista. Tudo é para agora. Tudo. Paciência parece ser virtude dos tempos em que minha avó precisava andar 5 horas de carroça para ver seu pretendente, 5 horas que passaria suspirando e esperando ansiosamente.

Não existe mais aquele jogo da sedução, do conquistar, do se encantar. Não se brinca mais com os olhares, nem com os bilhetes. O galante, não mais galanteador, vai direto ao ponto. Aborda seu amor de modo direto, inquisitivo e imediato. É quase um "agora ou nunca" do amor, "ou vai ou racha".

Nesse mundo completamente deturpado de sentimentalismo, o impossível é exatamente aquilo que grita à alma. Que faz a diferença. Que dá um gostinho de quero mais aos momentos.

Você sorri involuntariamente quando troca um olhar com o impossível. Um novo sol parece nascer no seu dia quando tromba com o impossível no corredor. Você quase ri em júbilo quando escuta o impossível gargalhando deliciosamente. Você pega o ônibus errado só para sentar ao lado do impossível na volta pra casa.

Como não se apaixonar pelo impossível? Não sei. Creio eu que seja impossível.

Me é impossível sentir seus lábios espertos, me é impossível passar os dedos pelo seu cabelo misterioso, me é impossível sorver do perfume da sua própria pele, me é impossível saber o gosto do seu suor, me é impossível rir da sua nua timidez sob meu olhar perscrutador.

Você me é impossível. E por isso, talvez apenas por isso, me seja tão apaixonante.

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