Seu pai estava extremamente intrigado com a recente relação de seu filho com a vizinha da frente.
Ele passava o dia ruminando sobre o que os dois tanto conversavam incessantemente.
Arranjavam desculpas para se encontrarem na esquina e lá ficavam, por horas a fio, discorrendo sobre o que apenas o mais imaginativo dos homens poderia imaginar.
Desde que estavam livres das obrigações diárias, fosse dia, fosse noite, fosse chuva ou fosse sol, lá estavam os dois a conversar.
Na esquina. No portão. Encostados no muro. Ou apenas em pé no passeio.
Era sempre possível vê-los ali, sempre tão intensos um com o outro em puro papo.
Aquela garota vizinha deveria ter um repertorio de assuntos bem abrangente, o pai pensava, era a única explicação.
E além de saber sobre assuntos variados, ela provavelmente também saberia à fundo cada um deles, de tão inesgotáveis que eram as conversas.
Até que um dia, os assuntos pareceram ter findado. Os encontros foram escasseando até se tornarem raros e, logo depois, extintos.
O pai então, após passado um certo tempo de lamuriosas saudades, resolveu perguntar ao filho o que tanto lhe intrigava.
O filho respondeu que, diferentemente das impressões do pai, a garota vizinha possuía uma gama de assuntos extremamente simplória.
O pai, mais intrigado ainda, perguntou porque então eles conversavam tão incessante sobre banalidades. Não lhe parecia possível repassa-las por mais que três vezes durante toda a vida.
O filho suspirou profundamente e explicou que sua relação com a garota vizinha era como fumar um cigarro ao esperar por um ônibus no ponto com um cérebro exausto depois de um longo dia de trabalho.
Um gesto autônomo que se faz. Que não é preciso qualquer tipo de raciocínio lógico.
Fazer por fazer só para não estar fazendo nada.
O pai perguntou então porque tal relação tinha acabado sem qualquer conflito aparente. Conversas banais não deveriam gerar conflitos - sobre o que terão conflito de princípios e ideias? Futilidades?!
Todo cigarro apaga, né, pai?! - respondeu o filho, apenas.
A garota vizinha não tardou a se mudar. Se seu filho sabia do motivo, também não aparente, não lhe comunicou.
Uma semana depois, virou fumante.
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