Uma vez, um jovem saiu de casa com o intuito de comprar um enfeite para colocar na mesa de centro da sua sala de estar.
Ele queria um enfeite modesto, apenas algum adorno para preencher aquele tampo vazio.
Mas um enfeite que fizesse a diferença, que desse um tom para a sala de estar.
E lá foi ele na empreitada.
Por sorte, a primeira vitrine que avista lhe chama a atenção.
Lá estava um adorno que não esperava encontrar, muito menos possuir. Não condizia com a decoração da sua sala de estar, em absolutamente nada.
Mas, ainda assim, havia algo ali. A forma como a luz da vitrine refletia em sua superfície. A cor. O próprio objeto em si. Havia um quê de elegância.
E apesar de não ser fã de coisas assim e de sua sala não ostentar nada de elegância, ele quis aquele adorno.
Entrou na loja, conversou com o vendedor e, muito mais fácil do que imaginava, lá ia rua afora com o tal adorno embaixo do braço. Sorriso estampado no rosto e o andar animado.
Chegou em casa e colocou a mais nova aquisição em cima da mesa.
O contraste foi grande. Aquela sala simples com um único adorno sofisticado.
Se sentiu quase um contemporâneo. Brincando com fogo. E o fogo era belíssimo.
Sempre que passava pela sala não podia deixar de sorrir. Sentia uma alegria imensa e verdadeira simplesmente por ter aquilo ali. Brincava consigo mesmo e ria da própria audácia. Seu riso ecoava pelas paredes da sala, como se esta, na verdade, fosse uma galeria.
Bem, o tempo passou.
Não se sabe bem ao certo o que aconteceu.
Se o objeto havia perdido sua beleza com o passar do tempo, sua superfície descascado e ofuscado, não mais refletindo o brilho das luzes.
Ou se, na verdade, a vitrine desse o tom ao objeto, a elegância, o mistério.
Ou se, de tanto passar pela sala, observar o objeto de vários ângulos, o encantamento havia acabado.
Os dias de contemporâneo, meu caro, findaram.
Ele acabou por deixar o tampo vazio e esperar deixar o destino lhe levar por outras vitrines.
Não se desfez do objeto, porém. Mas o guardou no criado-mudo ao lado da cama.
Todos os dias ele dava uma olhada, fechava os olhos e tentava imaginá-lo naquela vitrine onde o havia encontrado e onde o deveria ter deixado.
Ser contemporâneo e brincar com fogo é bom. Na verdade, é absurdamente estimulante.
Só que o fogo queima.
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